A direção é mais importante que a velocidade
- Andréa Menezes

- 13 de jul.
- 3 min de leitura
Me lembro muito bem da minha primeira consulta ao psicólogo. Estava angustiada por alguns comportamentos que não conseguia mudar. Me sentia estranha por estar ali falando sobre aqueles comportamentos dos quais me envergonhava para uma pessoa totalmente desconhecida, mas ao mesmo tempo sentia alivio por compartilhar aquilo com alguém. Não me lembro bem tudo o que falamos naquele dia, mas não me esqueci a coisa mais marcante que ela me disse e foi por isso que eu quis voltar: “…tem solução e vamos trabalhar juntas para chegar lá.” Eu não sabia quanto tempo aquilo levaria, mas saber que dava pra solucionar me encheu de esperança e disposição.
Hoje como psicóloga, as vezes sinto que as pessoas estão mais preocupadas com o tempo que isto pode levar do que com trabalhar para “chegar lá”. Fica todo mundo querendo um efeito Emília – a famosa boneca de pano que tomou a “pílula falante” e desembestou a falar. Pense comigo…. Ninguém aprende a falar assim! Todos começamos balbuciando algumas palavrinhas e depois de muitos anos tagarelando, a gente ainda pode “tropeçar” nas palavras. A tal “pílula falante” só existe nos contos do Monteiro Lobato. Ainda assim, muitas pessoas estão em busca da “pílula” que vai resolver de uma vez seus problemas. Em se tratando de mudar comportamento, a preocupação na maioria dos casos é em quanto tempo vai levar. Estamos sempre querendo tudo para ontem! Mesmo que haja consciência de que levamos anos repetindo aquele comportamento, queremos vê-lo mudar em uma semana.
A gente toma pílula para emagrecer, passando o tempo inteiro no sofá sem se exercitar, sem fazer dieta, esperando o efeito Emília. Tomamos pílulas para controlar a ansiedade, para não sentir, para dormir, pra ficar acordado… Ouvimos diagnósticos do tipo: “você não tem nada. É psicológico!” Ainda assim, levamos uma “pílula” pra casa para tratar o tal “nada” que temos. E, de fato, nada fazemos com aquilo, a não ser tomar as “pílulas”. Em 2016 o The Journal of Clinical Psychiatry publicou um estudo relatando que 70% dos indivíduos que usam antidepressivos não apresentam os sintomas de um episódio de depressão severa o suficiente que justifique a medicação. A “pílula” se tornou popular, embora estudos clínicos sugiram que há inúmeros métodos naturais que as pessoas podem recorrer sem se preocuparem com os efeitos colaterais causados por elas. Descartamos coisas como: exercícios físicos, a meditação, a boa alimentação, o cafezinho ou chopinho com os amigos, tempo com a família… e recorremos a “pílula”, ao efeito Emília, a fantasia de que ela resolverá nosso problema de imediato.

Isto me faz lembrar o filme “Click”. É a história de um arquiteto, casado e com filhos, que está cada vez mais frustrado por passar a maior parte de seu tempo trabalhando. Um dia, ele encontra um inventor excêntrico que lhe dá um controle remoto universal, com capacidade de acelerar o tempo. No início, ele usa o aparelho para acelerar qualquer momento tedioso, mas se dá conta de que está acelerando o tempo demais, deixando de viver preciosos momentos em família. Que ironia! A frustação dele é trabalhar de mais, mas daí quando ele tem um “controle do tempo” ele acelera justo o tempo nos momentos em que há reuniões familiares, na relação com os filhos, no tempo com a esposa. Não era para acelerar e pular o tempo no trabalho?! Que paradoxal!
Assim também acontece conosco no efeito Emília. Supostamente a “pílula” era para nos deixar bem, mas vamos ficando cada vez mais mal. Era para agilizar o processo! Mas vai demorando cada vez mais “chegar lá”. Investimos nosso tempo e dinheiro em algo que não trabalha o real problema. Queremos mais estar anestesiados do que resolver o problema?
Não é fácil mudar. Na maioria dos casos demanda tempo, esforço e muitas tentativas frustradas. Mas quando você toma o caminho da mudança sente que está indo para alguma direção, que há esperança de poder “chegar lá” em vez do autoengano que não te faz sair do lugar. Sabe aquele problema terapêutico de que falei no começo que me levou à terapia? Então…, entendi que o tempo não era a coisa mais importante. Porque, em se tratando de mudanças, segundo Edson Marques, “a direção é mais importante que a velocidade”. Que adianta promover mudanças aceleradas para a direção errada? Seja o que for que você precise mudar em sua vida agora, comece devagar.



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