Corpo, Idade e Carreira: Os Desafios Invisíveis da Mulher Executiva
- Andréa Menezes

- 15 de jul.
- 4 min de leitura
Você já parou para pensar em como o passar dos anos e as transformações do nosso corpo afetam a vida profissional, especialmente para nós, mulheres, que estamos em posições de liderança? É um tema que, embora muito real, ainda parece um tabu no ambiente corporativo. Recentemente, tive a oportunidade de me aprofundar em um estudo super interessante que aborda justamente isso: como as mulheres executivas vivenciam seus corpos que envelhecem dentro das empresas, e os desafios que surgem com isso.
Para entender melhor essa realidade, a pesquisa conversou com 20 mulheres, todas acima dos 40 anos, que já ocuparam ou ocupam cargos de liderança aqui no Brasil. E o que a se percebeu é que o envelhecimento é muito mais do que uma questão de idade; ele se cruza com o gênero, criando um cenário de preconceitos e expectativas bem complexas no mercado de trabalho. Afinal, enquanto a população envelhece — e a velhice feminina, em especial, cresce —, o ambiente de trabalho ainda parece valorizar a juventude a todo custo, principalmente quando falamos em liderança.
As Marcas do Tempo e o Preconceito Velado
Um dos pontos mais fortes que o estudo trouxe é o tal do ageísmo, que é o preconceito relacionado à idade. Muitas dessas mulheres contaram que, com o tempo, sentiram suas oportunidades diminuírem. É como se, de repente, a experiência e a sabedoria acumuladas fossem menos importantes do que a "aparência de juventude". Algumas se viram em situações de serem preteridas em processos seletivos ou até aceitando cargos abaixo de sua capacidade, simplesmente por estarem em uma faixa etária mais avançada. É um paradoxo: a maturidade nos traz mais competência, mas o mercado, muitas vezes, não a enxerga assim.
E não é só sobre a idade cronológica, é sobre o corpo. As organizações, muitas vezes sem perceber, tendem a “invisibilizar” os corpos que envelhecem, como se eles fossem menos produtivos ou até menos "atraentes" para o ambiente corporativo. É uma pressão sutil, mas constante.

O Corpo Feminino no Foco: Desafios e Transformações
Quando pensamos nas transformações físicas do envelhecimento, algumas delas são particularmente marcantes para as mulheres executivas:
A Menopausa: Muitas delas relataram os impactos físicos e emocionais, como insônia, cansaço, mudanças na pele e no cabelo. E, além do físico, a menopausa é vista, por algumas, como um marco que pode trazer a sensação de "perda de feminilidade" ou um receio de serem menos valorizadas em diversos aspectos.
O Metabolismo que Muda: Quem nunca sentiu que, depois de uma certa idade, manter o peso ou o ritmo de antes ficou mais difícil? Essa mudança no metabolismo gera frustração e uma sensação de inadequação, principalmente quando o ambiente corporativo parece valorizar um corpo "ideal" de alta performance.
A Vulnerabilidade à Saúde: Com o envelhecer, a gente fica mais exposta a algumas questões de saúde. Problemas de visão, audição, pequenas falhas na memória... Tudo isso pode afetar o dia a dia e, para algumas, traz uma preocupação sobre como isso é percebido no trabalho, como se a funcionalidade estivesse diminuindo.
A Pressão Estética: Ah, a aparência! No ambiente corporativo, a pressão para estar sempre bem-apresentada é enorme. Cabelos brancos, unhas impecáveis, um guarda-roupa alinhado... Essas mulheres sentem que precisam redobrar os cuidados para evitar comentários e preconceitos, como se a imagem fosse um "cartão de visitas" ainda mais importante com o avançar da idade.
Diante de tudo isso, é natural que muitas busquem estratégias para "mitigar" esses sinais: cremes, reposição hormonal, exercícios e uma alimentação cuidadosa. Não é só vaidade; é uma forma de tentar se encaixar nas expectativas sociais e organizacionais que ainda valorizam tanto a juventude.
Um Olhar Mais Profundo: O Corpo Como Reflexo do Poder
O que o estudo nos mostra é que o corpo da mulher executiva que envelhece não é visto apenas como um conjunto de características físicas. Ele se torna um elemento central na forma como elas são percebidas e tratadas nas empresas. Parece que as organizações têm uma predileção por corpos jovens e "perfeitos", e isso acaba afastando mulheres experientes de posições de poder.
É como se houvesse uma "hierarquia" não dita dos corpos: o corpo da mulher mais velha, muitas vezes, é posicionado em um lugar menos valorizado, o que reforça desigualdades. A aparência, nesse contexto, vai muito além da estética; ela acaba refletindo valores como "vivacidade" e "disposição". Por isso, a pressão para manter uma imagem sempre jovial e atraente, mesmo quando o tempo avança.
E o Lado Bom de Envelhecer?
Apesar de todos esses desafios, o estudo também trouxe um respiro: as mulheres entrevistadas mencionaram aspectos positivos do envelhecimento. É como se, com a idade, viessem uma maior segurança, uma serenidade para lidar com as situações e, claro, uma sabedoria que só os anos e as experiências podem trazer. Essas qualidades são um diferencial enorme para a tomada de decisões e para a liderança, mas nem sempre são valorizadas como deveriam.
O Que Fica de Tudo Isso?
Esse mergulho na realidade das mulheres executivas e seus corpos envelhecidos nos faz refletir: por que o corpo da mulher, à medida que envelhece, é tão desvalorizado no ambiente de trabalho? Precisamos, como sociedade e como organizações, repensar nossas lógicas. É fundamental que as empresas abram espaço para a diversidade em todas as suas formas, acolhendo corpos diferentes, com histórias e idades diferentes.
Combater o ageísmo e criar políticas que realmente promovam a inclusão de mulheres mais maduras em posições de liderança não é só uma questão de justiça; é uma estratégia inteligente para o futuro. Afinal, a experiência e a sabedoria que vêm com os anos são ativos valiosíssimos, e perdê-los por conta de preconceitos é um erro que nenhuma organização pode se dar ao luxo de cometer.
É um tema complexo, eu sei, e esse estudo é um pontapé inicial para aprofundarmos ainda mais essa discussão. A ideia é continuar refletindo e buscando caminhos para um ambiente de trabalho mais inclusivo e justo para todas nós.
ARTIGO:
Vieira, R. A., & Cepellos, V. M. (2022). Mulheres Executivas e seus Corpos: as Marcas do Envelhecer. Revista Organizações & Sociedade, 29(100), 154-180. https://doi.org/10.1590/1984-92302022v29n0006PT



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