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Encontro com as amigas: não é só um bom papo, é ciência pura!

Você já parou para pensar na mágica que acontece quando a gente se encontra com as amigas para desabafar?  Aquela conversa profunda, onde a gente se sente totalmente à vontade para soltar tudo o que está dentro... Pois é, isso não é só um bom papo, é ciência pura!  Quando mulheres se abrem e se conectam de verdade, algo incrível acontece no nosso corpo. Esta sensação tem uma base biológica fascinante, e muito disso passa por dois neuro-hormônios cruciais: a ocitocina e a vasopressina.


Um artigo de revisão publicado por Dumais e Veenema (2016) na revista Hormones and Behavior explora justamente os sistemas de receptores desses hormônios no cérebro e seu papel complexo no comportamento social. Ambos são conhecidos por sua influência em uma vasta gama de comportamentos sociais, que vão desde o vínculo e o apego até a memória social e as respostas ao estresse. Eles agem em regiões cerebrais específicas, regulando nossas emoções e interações.


É importante compreender que não é apenas a quantidade desses hormônios que importa, mas sim como o cérebro os "recebe". A forma como os receptores de ocitocina e vasopressina estão distribuídos e funcionam no cérebro é fundamental para determinar o impacto desses hormônios no nosso comportamento. Essa "rede" de receptores é finamente sintonizada e pode ser moldada por diversas influências. E aqui entra um ponto super relevante para nós: o artigo destaca como os hormônios sexuais, em particular o estrogênio, podem modular a expressão e a sensibilidade desses receptores. Isso significa que o estrogênio pode influenciar a forma como o cérebro de uma mulher responde à ocitocina. Em outras palavras, não é apenas a presença da ocitocina, mas a capacidade do nosso corpo de "sentir" seus efeitos, que é influenciada pelo nosso perfil hormonal.


Não é só um bom papo, é ciência pura!
Não é só um bom papo, é ciência pura!

Esse jogo de hormônios no nosso corpo, como o estrogênio, pode explicar por que homens e mulheres, ou pessoas em diferentes fases da vida (tipo adolescência, menopausa), podem reagir de maneiras diferentes nas interações sociais. Para nós, mulheres, o estrogênio parece "potencializar" o efeito da ocitocina – aquele hormônio do bem-estar e da conexão. Isso significa que o apoio de outras pessoas (especialmente em momentos de co-regulação, como conversas com amigas) acaba sendo ainda mais poderoso para nos ajudar a lidar com o estresse e a nos sentir bem.


Neste ponto, vamos abrimos um parênteses para esclarecer o conceito de co-regulação.  Ela é como se fosse uma dança sincronizada entre duas pessoas (ou mais) para acalmar e equilibrar o sistema nervoso uma da outra. Imagina que você está estressada ou sobrecarregada, e se conecta com alguém em quem confia, como uma amiga. Ao compartilhar suas emoções e se sentir compreendida, o cérebro dessa amiga e o seu começam a influenciar um ao outro. Isso dispara uma série de reações biológicas em ambos, como a liberação de ocitocina (o hormônio do bem-estar e do vínculo) e a ativação do nervo vago, que ajuda a desacelerar o coração e a tranquilizar.

Ou seja, a co-regulação é esse processo em que a presença e a conexão com outra pessoa, especialmente em um ambiente de confiança, ajudam a trazer o seu corpo e mente de volta ao equilíbrio, reduzindo o estresse e promovendo uma sensação de segurança. É um "ajuste mútuo" do sistema nervoso, onde um ajuda o outro a se regular.


No caso das mulheres, o artigo sugere que essa co-regulação é ainda mais potente, justamente pela influência do estrogênio na forma como a ocitocina atua. É por isso que desabafar com as amigas não é só um bom papo, mas um verdadeiro bálsamo fisiológico!


Entender como esses hormônios funcionam e se influenciam mutuamente nos ajuda a ver mais claramente por que sentimos tanta necessidade de nos conectar com os outros e como o apoio social é fundamental para o nosso equilíbrio. Essa área de pesquisa está sempre evoluindo, mas já nos mostra que nossas experiências mais profundas de relacionamento não são só "coisa da cabeça", mas têm raízes bem fortes na nossa própria biologia.


Então, aquela conversa sincera e acolhedora não é só um conforto momentâneo. Ela gera uma mudança fisiológica real, célula por célula! Falar sobre o que sentimos nos ajuda a processar o estresse, a colocar as emoções em ordem e, o mais importante, a nos sentirmos verdadeiramente vistas e compreendidas.


Que tal chamar aquela amiga que você adora para um cafezinho e uma boa conversa?


FONTE ARTIGO:

Dumais, K. M., & Veenema, A. H. (2016). Vasopressin and oxytocin receptor systems in the brain: Current developments in understanding their role in social behavior. Hormones and Behavior, 80, 11-20.

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Tel: (61) 98436-5240

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