Menopausa além dos sintomas: o impacto surpreendente do estrogênio no cérebro feminino
- Andréa Menezes

- 26 de ago.
- 5 min de leitura
Recentemente, comecei a ler o livro “O cérebro e a menopausa” de Lisa Mosconi. Uma leitura fascinante que explora em seus primeiros capítulos justamente como o estrogênio, um hormônio tão presente na nossa vida, se comporta durante a menopausa e o envelhecimento. Através do livro, cheguei também a um artigo que além de falar sobre essa relação estrogênio e cérebro, também destaca como a terapia hormonal (TH) pode ser uma aliada – ou não – nesse processo. Meu objetivo aqui é te trazer esses insights de forma clara, direta e, claro, naquela forma de uma conversa leve.
Por Que o Estrogênio é Tão Importante para o Nosso Cérebro?
Para começar, o estrogênio não é só um hormônio ligado à reprodução; ele é um verdadeiro maestro para o nosso cérebro! Pense nele como um zelador atento: ele protege os neurônios contra danos (aquela neuroproteção que tanto buscamos!), promove a sobrevivência celular e otimiza o funcionamento das nossas mitocôndrias, que são as "usinas de energia" das células.
Mas não para por aí. Ele também é fundamental para a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do nosso cérebro de se adaptar e formar novas conexões. O estrogênio faz isso aumentando a densidade de algo que chamamos de "espinhas dendríticas" e "sinapses" – que são como os pequenos antenas e pontos de comunicação entre os neurônios. Isso acontece especialmente em áreas como o hipocampo (crucial para memória e aprendizado) e o córtex pré-frontal dorsolateral (aqui entra a atenção, o planejamento e o raciocínio complexo). É como se ele mantivesse a nossa rede cerebral sempre bem conectada e eficiente!
E, claro, com essa atuação tão ampla, não é surpresa que o estrogênio tenha um papel no humor e na cognição. Ele modula neurotransmissores importantíssimos, como o glutamato e a acetilcolina, que são a base das nossas funções cognitivas e emocionais.
A Montanha-Russa da Menopausa e o Cérebro
Com a menopausa, os níveis de estrogênio caem drasticamente, e não é raro que surjam queixas neurológicas. A ciência nos mostra que muitas mulheres relatam diminuição da concentração e piora da memória. E sim, isso pode estar ligado a essa queda hormonal.
Mas o ponto crucial, e que a pesquisa tem aprofundado, é o conceito da "janela de oportunidade". Já ouviu falar? É algo bem interessante!

A Janela de Oportunidade: Quando a Terapia Hormonal Faz a Diferença
Por muito tempo, a terapia hormonal na menopausa foi cercada de polêmicas e resultados conflitantes. Mas o que as pesquisas mais recentes têm desvendado é que o timing (o momento certo) faz toda a diferença.
Estudos Observacionais (os que olham para grandes grupos de mulheres ao longo do tempo): Eles frequentemente mostram que mulheres que começaram a terapia hormonal (seja só estrogênio - ET, ou estrogênio + progestagênio - HT) no início da transição menopausal ou logo após a menopausa, tiveram um risco menor de declínio cognitivo e demência, incluindo Alzheimer. É como se a TH agisse de forma preventiva, mantendo as células cerebrais saudáveis antes que os problemas se instalem.
Estudos Clínicos (aqueles mais controlados, como o famoso WHIMS): Aqui é onde a história se complica um pouco. O estudo WHIMS, por exemplo, não mostrou melhora da função cognitiva em mulheres mais velhas (acima de 65 anos) que iniciaram a TH. Pior, para algumas formulações combinadas, houve até um aumento do risco de demência.
Qual a Lição aqui aprendida?
A grande sacada é que o estrogênio é mais eficaz quando o cérebro ainda está "saudável" e resiliente. Se a terapia é iniciada tarde, quando já pode haver algum nível de neurodegeneração, ela pode não só ser ineficaz, mas, em alguns casos e com certas formulações, até mesmo prejudicial. É por isso que a "janela de oportunidade" – o período perimenopausal e o início da pós-menopausa – parece ser tão crucial para colher os benefícios neuroprotetores e cognitivos do estrogênio.
E o Humor? O Estrogênio Também Ajuda?
Sim, e muito! Para nós, psicólogas, é um alívio saber que o estrogênio tem um impacto significativo no humor, especialmente na depressão perimenopausal. Estudos mostram que, para mulheres sem histórico prévio de depressão, há um risco maior de desenvolver o quadro pela primeira vez durante a transição menopausal, principalmente na fase final, com a queda mais acentuada do estradiol.
A boa notícia é que a administração de estradiol nesse período pode reduzir os sintomas depressivos de forma bem expressiva! Em alguns estudos, até 80% das mulheres perimenopáusicas tiveram melhora. Importante notar: essa melhora não é apenas por conta da diminuição de outros sintomas, como as ondas de calor; é um efeito direto do estrogênio no humor. No entanto, para mulheres que já estão há mais tempo na pós-menopausa (5-10 anos), o benefício para o humor não é o mesmo.
A Formulação Importa!
Outro ponto que o artigo reforça é que a escolha da formulação da terapia hormonal é superimportante. Não é só "estrogênio" ou "hormônio", sabe? É que existem diferentes tipos e combinações. Por exemplo, a progesterona natural (um hormônio feminino que nosso corpo produz) pode ser bem bacana, protegendo nossos neurônios e agindo junto com o estradiol.
Mas aí que mora um detalhe: existem também as versões sintéticas da progesterona, que são criadas em laboratório. Um exemplo conhecido é o acetato de medroxiprogesterona (MPA), que fazia parte da formulação de alguns medicamentos muito usados, como o Prempro (mencionado no famoso estudo WHIMS). E, pasme, a pesquisa mostrou que, ao invés de ajudar, essa versão sintética pode até atrapalhar os efeitos positivos do estrogênio no cérebro e, em alguns casos, piorar a situação das nossas células cerebrais.
Isso nos mostra que não basta repor o hormônio; é preciso saber qual hormônio, em que forma e em que combinação. Cada detalhe importa, e por isso a personalização do tratamento e a continuidade das pesquisas são tão importantes!
O Futuro da Terapia Hormonal e o Nosso Bem-Estar
Com mais de 470 milhões de mulheres no mundo acima de 50 anos, e muitas vivendo um terço ou metade de suas vidas no estado menopausal, é fundamental que a ciência continue avançando. Precisamos entender melhor as variações individuais, qual o timing ideal e as formulações mais seguras e eficazes para proteger o cérebro feminino e sustentar a qualidade de vida.
O que fica claro é que o estrogênio é um aliado poderoso para a saúde cerebral das mulheres, desde que a sua atuação seja compreendida e otimizada. É um convite para que a gente continue pesquisando, conversando e desmistificando a menopausa, transformando-a em uma fase de bem-estar e autoconhecimento.
FONTES:
Artigo:
Morrison, J. H., Brinton, R. D., Schmidt, P. J., & Gore, A. C. (2006). Estrogen, menopause, and the aging brain: How basic neuroscience can inform hormone therapy in women. Journal of Neuroscience, 26(41), 10332–10348. https://doi.org/10.1523/JNEUROSCI.3369-06.2006
Livro:
O Cérebro e a Menopausa – Lisa Mosconi



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