Sexualidade no Climatério: desvendando mitos e cuidando do bem-estar
- Andréa Menezes

- 23 de jul.
- 3 min de leitura
Nos últimos anos tenho me debruçado sobre o tema da saúde e bem-estar feminino e percebo que ainda são cercados de tabus. Um deles, sem dúvida, é o climatério e seu impacto na sexualidade e na saúde mental das mulheres.
Apesar de ser um período de transição natural na vida de toda mulher, infelizmente, ainda é carregado de desinformação e estigmas. Pensando nisso, achei pertinente compartilhar aqui um estudo recente – uma revisão integrativa da literatura sobre sexualidade feminina e climatério – que reforça a urgência de olharmos para essa fase com mais atenção e carinho.
Climatério: Um Olhar Além dos Sintomas Físicos
Esse estudo, que analisou 20 pesquisas publicadas entre 2019 e 2024, buscou entender como os sintomas do climatério realmente afetam a sexualidade e a saúde mental das mulheres. E o que ele nos mostra é fascinante e, ao mesmo tempo, um alerta.
Não se trata apenas das ondas de calor, sabe? Embora sejam um sintoma clássico, o impacto vai muito além. A pesquisa apontou alguns efeitos que merecem nossa total atenção:
A intimidade em xeque: Uma grande parte das mulheres – cerca de 91,3% para ser mais exata – pode enfrentar disfunções e insatisfação sexual. Isso acontece por fatores físicos como atrofia e ressecamento vaginal, que podem causar dor durante a relação. É um desconforto real que precisa ser falado e tratado.
O peso na saúde mental: Quase metade das mulheres com mais de 49 anos pode experimentar sintomas como ansiedade e humor depressivo. Isso afeta diretamente a qualidade de vida e, claro, a sexualidade. A irritabilidade, as alterações de humor, a fadiga e os distúrbios do sono são companheiros indesejados dessa fase.
Impacto nos relacionamentos: Sintomas físicos e psicológicos podem dificultar a comunicação e diminuir o desejo, o que naturalmente se reflete na dinâmica dos relacionamentos, inclusive os conjugais. O diálogo aberto é fundamental aqui!
Crenças que aprisionam: Esse ponto me toca particularmente como psicóloga. Existem muitas percepções negativas e equivocadas sobre a menopausa e o papel feminino, construídas pela sociedade e pela cultura, que afetam a autoestima e a forma como a mulher vive sua sexualidade.

Mitos e Estigmas: Precisamos Desconstruir!
Acredito que o maior desafio é o que o estudo chama de "crenças socioculturais negativas". Elas são como véus que nos impedem de ver a beleza e a potência dessa fase da vida. Vejamos alguns desses mitos:
O valor da mulher ligado à reprodução: A ideia de que o valor feminino está associado apenas ao período reprodutivo pode gerar sentimentos de inutilidade e solidão quando essa fase termina. Isso é uma grande mentira! O valor da mulher é intrínseco, pleno e se expande em todas as fases da vida.
Menopausa como "fim da vida sexual": Em muitas culturas, a menopausa não é vista como um processo natural de transição, mas como um ponto final na vida sexual. Essa visão prejudica imensamente a satisfação e a qualidade de vida.
A falsa percepção de fim da feminilidade: Achar que a menopausa marca o fim da capacidade de sentir prazer e exercer a sexualidade é uma visão completamente equivocada e limitante.
Como psicóloga, e como mulher, vejo a importância vital de desconstruirmos esses estigmas. Eles nos impedem de viver plenamente e de cuidar da nossa saúde sexual e mental de forma integral. Não podemos permitir que a sociedade dite o que é ser mulher ou como devemos viver nossa sexualidade em qualquer idade.
E Agora? O Caminho Para o Bem-Estar no Climatério
O climatério é uma fase complexa, sim, com muitas mudanças físicas, psicológicas e sociais. Mas não precisa ser um fardo. O estudo reforça algo que sempre defendi em minha prática: a necessidade de uma abordagem multidisciplinar.
Isso significa que, além do acompanhamento médico (que pode incluir terapia hormonal, se indicada), o apoio psicológico é crucial. A atividade física, a educação sobre saúde sexual e a desmistificação dos tabus são pilares para promover um bem-estar genuíno.
Minha experiência me mostra que, ao entender melhor o que acontece com nosso corpo e mente, e ao nos libertarmos de crenças limitantes, podemos navegar por essa fase com mais autoconhecimento, autocuidado e leveza.
Afinal, a saúde e a qualidade de vida das mulheres merecem toda a atenção em cada etapa da jornada.
FONTE ARTIGO:
Leite, I. D., Araújo, L. M. de, Barreto, M. L. D. B., Lima, R. M., Silva, R. F. P. e, Souza, J. P. S., Santana, J. A. M., Mendes, D. S. L., Fernandes, V. L. S., & Neto, A. G. (2025). Sexualidade feminina e seus fatores associados a partir do climatério. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, 23, e20230079.



Comentários